APETITE A METRO

Coisas de gaveta, para gente de gaveta.

Meno:
Miesto: Lisboa, Portugal

É colocada à disposição dos que visitam este blog a criatividade que sempre esteve na gaveta. Desenhos, escritos, contos, divagações, músicas, poesia... tudo o que for encontrando. Tudo que encontrar aqui é original, não contém nenhuma espécie de plágio ou cópia de outro autor que não os que neste blog participam.

pondelok, júla 02, 2007

contorcionista draconiano



utorok, júna 12, 2007

observa exilado em exalação subtil

Refeição em Portimão!

Chica coxeia, serve o prato do dia – febras – e sandes diversas a clientes com vontade de cerveja e jarros de vinho da casa. Tinto de secar gengivas e arrepiar estômagos mais sensíveis. São cinquenta e muitos os anos que carrega. Mesmo que a realidade lhe coloque os correctos quarentas. Poderá ser a perna que desenha sola e borracha no azulejo, ou o óleo queimado que paira na cozinha que lhe deforma os poros, sulca e amarela a pele. é a velha, de voz esforçada como se tivesse cantado fado e bebido taças feito severa durante a mocidade. Não me parece que alguma vez tivesse cantado. Pouco importa pois também não lhe perguntaria.
Pois Decerto que a mulher seca, pouco dada à palavra, ignorasse qualquer tipo de interpelação para alem da ordem dos pedidos da maralha. O que é de beber, o que é de comer, o que é de sobremesa e se bebe café…. Aguardente?... vou ver!

Outras mulheres pairam na tasca, almoçam com os talheres engolidos nas mãos, golfando a alface do bitoque. ora com os dedos ora com movimentos reptílios de garganta. Facilmente mulheres de alterne de língua e resposta afiada, que se alimentam para arriscar pela noite fora substanciadas por estórias a que chamam experiência de vida por um processo acumulativo. Estáticas por vezes, quando sentem o sotaque familiar num canal por cabo. O país que os pariu violenta-lhes a refeição, e elas gostam. Não lhe cobram o privado.

Surge na tela o reformado, pelo pólo e corte de cabelo aprumado decerto um funcionário público ou bancário ( entenda-se caixa ) que desajeitado paira por cima daquele sexo que de cio pouco tem, mas cujas hormonas enganam pelo aparente sexo fácil. Engana-se, uma puta de noite é uma mãe durante o dia. E o trocadilho fácil não lhe abona credibilidade, aumenta-lhe a fome e o desespero solitário da masturbação sexagenária. Esforça-se por um relato de ocupado de um dia vazio, feito de refeições frugais e caseiras, desprovidas de família. Um prenuncio de morte, um pensamento nunca ausente, um finar de objectivos sobre duas pernas e mil braços solarizadas até exaustão… ali!

Chica Manca adormeceu debruçada sobre a mesa.

A televisão com sotaque, fala de assassinatos, proxenetas, droga, lavagem de dinheiros, suspeitos foragidos, e sol carioca.

O peito mole e abundante da brasileira lateja aos olhos de mais um trolha. Todos se servem livremente de sumos da arca. O filho mais novo serve cerveja em surdina aos amigos. E assim é.

utorok, decembra 12, 2006

uma constatação inacabada

pressionada a fonte,
acabou por ceder a uma dor
que acabou por dar
o que de acabado tinha.

tinha o que mais ninguém esperava.
uma outra fronteira
para alem do osso e da linfa.

e para além do eu e do que tem de ser,
- por inerência ou por maldade -
acabou por acabar
no dedo que pressionava...

a própria dor

streda, augusta 23, 2006

À espera!

Livre e descomprometida, sentou-se no café deixando um rasto de liquido no chão. as àguas rebentaram e ela deixou-se ficar mirando a rua agitada do Largo do rato, sentada a uma mesa ainda por limpar dos clientes anteriores.
No meio dos gritos e dos frenéricos movimentos de pretenso auxílio a alguem que estava prestes a parir, helena avaliava que pelas 5 beatas no cinzeiro de 2 marcas diferentes, os clientes anteriores eram fumadores inveterados, que não eram exigentes com o pequeno almoço e que seu estilo de vida lhes retirava tempo a um tempo desde já limitado por eles.

Pediu um quarto de vigor, morno, e um palmier simples cortado ao meio. Solicitou também que retirassem o cinzeiro. Ainda replicou com um aceno de mão aborrecido ao " mas você está a dar à luz, não vê?".

Veio o pedido, e entre as pessoas que atónitas assistiam à cena, alguem decidiu que helena era louca e chamou o 112. Helena tomou o pequeno almoço e pagou logo que terminou, não deixou gorjeta - o palmier estava seco.

os empregados de côcoras analisavam o líquido para se certificar se ao final não seria urina. Mas não a mulher paria, de facto paria.

Abriu as pernas, fincou as mãos na cadeira e gritou de dôr. Lisboa parou. Quarta feira, Largo do Rato, 9 da manhã, lisboa calou-se com os berros e assistiu a um nascimento.

Meu filho, disse Helena com a criança ensaguentada nos braços, foi aqui que nasceste e eu sou a tua mãe e é aqui que tomo o pequeno almoço regularmente.

Embrulhado num pano de mesa, entrou na ambulancia ao colo da Mãe. Terminou a espera de Helena, começou a do André!


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streda, marca 08, 2006

Ivo....... ( parte II )

Acreditou Ivo que o seu ultimo dia deve ter sido em tudo igual ao primeiro que se recorda. Isto porque ninguém lhe disse que a primeira recordação pressupõe uma continuidade, e que o ultimo dia é o momento de uma das mais incríveis triagens de ideias, lembranças, lixo e pensamentos, amores e desalentos, verdades escondidas e cruéis sentimentos face a outros.

Acordou e lembrou-se nitidamente da primeira vez que adormeceu. E ficou assim sentado na cama a observar-se. Alguém com uma história embalou-o. Recorda-se de ouvir ainda o quase fim da história, da pessoa a abalar com passos cuidadosos pensando que Ivo já dormia. Recorda-se de estar numa espécie de penumbra ensonada, de não conseguir comunicar, pedir tudo por tudo que o Pai acabasse a estória.
Recorda-se que nunca mais se lembrou de pedir esse desfecho e realizou agora, a fonte de um desconforto e sentimento de falta de algo que o acompanhou a vida inteira. Percebeu e desvendou um grande mistério da sua existência e da sua personalidade. Desmistificou o abstracto e renasceu diferente nessa manhã.

Não lavou os dentes, vestiu a roupa de ontem, não trancou a porta, cumprimentou o porteiro mais a vizinha do 2º direito e fez uma festa no cão minúsculo dela. Não foi trabalhar.

No eléctrico para a Praça da Figueira - dos antigos -, irritou-se. Estava ansioso, e sentia que pela primeira vez todos olhavam para ele. Como se não fosse Ivo, ou um diferente Ivo se tratasse ali sentado.

Pediu horas, como se pedisse água. A senhora assustada respondeu-lhe educada mas não sem antes dar a entender que Ivo tinha no seu pulso um relógio. Desculpou-se de imediato dizendo que estva estragado. Sófrego e logo de seguida perguntou à mulher para onde se dirigia ela. Um homem por perto – alto e de fato – interpelou-a “ este senhor está a incomodá-la?”, mais valia ter dito, se o animal sujo e estranho, de olhar esgaziado e perdido estava a magoar a senhora.

Ivo justificou, não a quero violar. Só quero saber para onde vai. Preciso de ir para algum lado e como não sei para onde vou, calculei que seguir o caminho de alguém que já preparou um itenerário seria mais fácil e eficaz. Quando lá chegar verei se era o correcto.

Mas a maralha que o empurrou para fora do eléctrico só o ouviu até a parte em que Ivo falou qualquer coisa de violar. No chão do Largo da princesa, viu o eléctrico partir com a sua carteira, com o seu sapato esquerdo e possivelmente com o fim da estória.

Ninguém o ajudou a levantar, ninguém lhe perguntou nada, apodreceria no passeio caso não tivesse visto de relance que um outro Eléctrico – dos novos – vinha em sua direcção.

( continua... )

piatok, marca 03, 2006

Ivo... ( parte I )


Curiosa rigidez que lhe minou o destino. O homem que era, finou pelas mãos descrentes de indivíduos encapuçados e rebentou pelas costuras, no percurso impenetrável da morte. Ninguêm se atreveu a segui-lo. Fosse para o salvar, fosse por curiosidade de ver como lhe ficava a morte na pele.

Ivo, nome que lhe fora dado pela insistência de uma avó demente e decrépita, sempre foi calado e pensativo. Julgaram sempre as professoras, em conversas sacrílegas, que seria sinal de um grande homem, ou marca de assasssíno em série.

Pois Ivo, nunca se considerou em momento algum um grande homem, e nem a vontade de matar lhe saltou da cabeça para as mãos. Trabalhou a sua vida inteira em café, nunca foi dono de nenhum e quase sempre dispensado por falência do estabelecimento. Logo não será de estranhar, que Ivo no fim da sua vida, não colocasse de lado a possibilidade de ser ele a causa do fecho dos estabelecimentos por onde arrastava a sua vida.

Cedo percebeu, que lugares como os que frequentava, não tinham espaço para albergar sonhos ou projectos. Diga-se então que, Ivo não foi um grande homem, nem um assassino e muito menos um criador ou amante de futuros, por mais remotos que fossem. Na ausência do tempo em frente, aquele em que vivia, eram apenas os minutos reservados a tarefas que só ao corpo e a uma ínfima parte do cérebro competiam.

Tirar café, depois um copo com água, mais tarde um bolo. Não esse não, é de hoje?, olhe embrulhe 2 destes, 4 daqueles, e tire um café, cheio, escaldado... Ivo repetia sempre as mesmas rotinas, gestos e erros. Não pensava. Era atrasado. Anti-social, não convivía, não gostava de bola, não gostava de música, não gostava de tantas coisas que a pergunta que se deveria colocar era:

De que gostas afinal Ivo?

Mas Ivo nunca respondeu pela triste circunstãncia de nunca lhe perguntarem nada.

O que realmente importa contar, é o último dia da vida-não-vida de Ivo Sousa, o mais secreto sem segredos de todos os homens e coisas vivas deste planeta. Até a erva seca tem segredos, ou que seja segredos que nela queiram ver ou encontrar. Mas esta carcassa com prazo a que as instituições e convenções chamam de homem... não.

( continua... )

piatok, februára 24, 2006

O adeus de uma Cagona

Cantava... num julgamento eterno de auto comiseração. Um pedaço de energia que se gerou na sua ideia transformou-se num palco prisão.

A cagona, superficialidade porosa que sua reflexos e mentiras creditadas pelos serviços de autenticação do seu sistema nervoso.

Essa mulher, que já não mulher, imersa e desprovida de contacto com uma realidade aceite por todos, ela despe-se convicta de um presente que oferece aos demais que deverão estar boquiabertos e eternamente agradecidos.

Rainha do mundo cão, princesa vaca do reino Não, luminoso quanto baste para indicar aos zaratrustras deste universo o caminho enlameado para esse éden suturno e cabisbaixo de boite improvisada. no qual ela dança, no qual ela canta, no qual ela se despe defronte um espelho.

Sempre parecendo que se prepara para a inevitabilidade de um dia se encontrar.

Aflita, a Cagona, de espírito aberto e de visão fechada, trancada no quarto, penteia 100 vezes a peruca.

No quarto, com água quente a correr na banheira...

Leu algures algo sobre filósofos gregos, centuriões romanos e despedidas honrosas.

Que romantico não é?

štvrtok, februára 09, 2006

Essa rameira edifício - A primeira das funções

Anos passaram. Homens morreram, crianças nasceram, gerações atropelaram-se sucessivamente. Todos os ciclos se completaram e todos re iniciaram.
A rameira fez-se edifício faz anos, e a sua história é apenas uma fábula. Todos sabem-na, mas ninguem acredita.

É um edifício estranho e de gosto discutível, onde se abriu um bordel.

Mas é um edifício que é carregado de simbolismo, que os mais sensíveis dizem quase não ser preciso as prostitutas. Diz-se que o simples toque nas paredes parece transmitir toda uma panóplia de vontades e desejos que necessitam a satisfação... daí o recipiente prostituido que são as rameiras que por lá habitam. Poucas, porque os homens e as mulheres preferem as paredes do edifício, os recantos, as colunas que parecem costelas, e toda a estrura de pedra que parece feita de linfa, sangue, pele e osso.

Babilónia, caracterizada assim a cidade dos pecados pelas beatas que vão perdendo em numero, mas ainda cumprindo a sua própria função de zelo moral.

Um edifício enigmático, rodeado de lendas de uma rameira sobrenatural que ali abriu a portas do seu coração. Uma mulher que prescindiu da sua vida e de todo o excesso que rodeava o verdadeiro significado da sua vida. A função de ser o vaso receptor de todos os desejos carnais e de luxúria dos homens. Deixou assim de ser a prostituta e passou a ser a prostituição da Cidade.

Dizem agora os grandes teóricos, os funcionalistas, que é neste caso mitológico, que encerra uma das grandes verdades e soluções para o mundo que se poluio de maquinas e dispositivos desprovidos de gosto e sensações. Coisas que pretendem apenas simular e reproduzir o que um homem faz retirando seus defeitos.

Sonham em ser possível transformar o ser humano. Retirar tudo o que é superfluo e optimizar em prol da função. que o individuo sapateiro deixe de o ser em confusão com o alcoólico que é, amante de jogo, pai de 5 para passar a ser sapateiro em todo o seu propósito. Ser O sapateiro. Um homem, ser O cultivo, A justiça, O armazenamento de Dados, só e apenas A Função.

Será possível?

Um mundo Deformado?

Funcional em todos os aspectos?

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" Estranhas figuras começaram a aparecer nos céus. Figuras aladas, ser humanos deformados que raptam as pessoas e devolvem-nas deformadas. não contra sua vontade, pois as figuras segredam as razões das suas acções e convencem as pessoas. Anjos do advento, criaturas dotadas de olhos cegos, bocas diferentes e segredantes, desprovidas de ossos excepto nos braços , criadas por alguém de propósito para voar, falar e carregar as pessoas. Voltam deformadas e preparadas para trabalhar apenas num óficio.
Sou diplomata... e aguardo ansiosamente a minha vez. "

streda, februára 01, 2006

Essa rameira edifício - um momento claro

Quem olhasse para ele adivinhava-lhe suas segundas intenções. Estava há mais de duas horas quase tão inerte como a rameira que se fez edificio de há dois meses para cá.

Soube-se que falou com o médico local sobre o diagnóstico feito à aberração. Diz-se que já esperava quando o médico lhe disse que " não é de mim que precisa... se tanto deverá consultar um geólogo! "

Não respondia a perguntas, apenas formulava-as. O olhar era seco, quase sem vida, enquanto aguardava pela resposta. E todos tinham uma para dar, não porque inventavam mas porque as perguntas já tinham destinatário decidido.

Dava ares de importancia, "alguém" enviado por "alguém" que de certeza era "alguém" poderoso e influente e que de certeza iria ajudar aquelas gentes a livrarem-se do monstro de pedra que se desenvolveu no centro da praça. No centro da Cidade. Tão alta e tão panóptica que até dos subúrbios se sentia a sua sempre vigilante presença.

No fim da tarde, foi por sorte que um dos miúdos que brincava a atirar pedras aos sapos, no riacho da entrada Este, reparou que o homem abalava sem dar satisfações. Ia sair como entrou, despercebido como um vulto. O rapaz, alertou um e outro que por ali estava e não demorou muito até que uma multidão o envolveu.
" Não vou retirar nada daqui, cada um tem o que merece. Aconselho que pensem sobre o porquê de ter acontecido na vossa cidade e pararem de contornar a situação. Não se trata de um cão com sarna que se enxota, é um cão que é tratado para deixar de a ter." Gritos de raiva e indignação apoiavam as cotoveladas entre a multidão que ameaçava despedaçar aquele arrogante homenzinho.

" Queres ganhar o quê com isto oh seu merdas? "

" A vossa cidade não é diferente das outras, pelo menos dez tiveram a mesma sorte de aprenderem com o que lhes está a acontecer. A nossa decisão mantêm-se, voltamos dentro de 3 semanas para averiguar os desenvolvimentos. "

"Mas o que é você ?" " Não lhe interessa saber quem sou, o que lhe poderia porventura interessar é o que posso fazer... mas nem isso lhe direi! A grande Rameira fica. Observem-na e estudem o aparente bloco de pedra. "

" e quem trabalhará, quem cultivará? "

" Mesmo que morram é vital que o façam! Até daqui a 3 semanas! "

utorok, januára 24, 2006

Essa rameira edifício


Abriu o peito, foi no meio da praça. Não se deu conta que a observavam. Segundos mais tarde já pouco importava se era homem ou multidão que a rodeava em nojo.
Gritos telegráficos, em código antigo, animal e com um cheiro primitivo transbordou ruas e vielas que ali coabitam com as gentes. Nova coisa que ali acontecia.
Coisa nunca antes vistas, lembrada ou sequer imaginada.
Miúdos boquiabertos, espevitados e empoleirados ignoravam o apelo dos mais velhos, persistiam amedrontados e quase conscientes que aquilo seria algo que nunca mais veriam. Ninguém apaga uma imagem assim, sobrenatural.
Quem não era religioso benzia-se, homens adultos horrorizados prendiam a boca, cerravam os olhos.
A cidade susteve a respiração... até que a mulher parou.
Gigantesca.

Abriu-se uma escada por ela adentro, a boca ocupava todo lado Este da praça. Era monstruosa.
E ao mesmo tempo que se percebeu que nela cabiam uma boa centena de homens, surgiam os primeiros gritos de incitamento. "Subam!" " Essa puta sempre teve algo a dizer!" " Tem dinheiro lá ao fundo, tem que lhe vejo o brilho daqui!" "cobardolas, são todos os cobardolas" " Vai tu seu vádio" " A gaja está a rir pá! A gaja está a rir!"

Ninguém entrou, dois meses passaram, parecia petrificada, à espera... ou assim parecia.

Soube-se que é Julia, Viúva de António, mulher de má fama!
Parteira de rua, pedinte de côdeas duras e mulher de gatos que fez casa na ponte desabada à porta da cidade. Bruxa dos fetos retirados antes do tempo, cumplice das rameiras que fazem filhos dos outros.

Ninguém entrou, 6 meses passaram, parecia petrificada, à espera... era claro!

"Puta!" gritavam as beatas puras e tementes a Deus. "sua vaca, hás-de te abrir para o diabo até que rebentes e desapareças".

Mas não foi o que aconteceu.

( continua... )

Poesia #1









serra do buçaco
(foto Bruno Ferreira - Jan 06)

Imensa sanidade,

Vicio de andar direito.

Sou dois pés porque sou duas pernas e ando

E tenho boca porque converso e convenço outros.

Nasci líder da carne que possuo,

Porque tenho ossos que partem,

Porque a vida pára em cada instante.

Estou bípede porque penso em ser bípede,

Imito claro os sons que rodeio

Porque em constante perigo me ergo.

Alimento-me, sacio-me.


E no entanto, morrerei deitado. Posted by Picasa

pondelok, januára 23, 2006

UM NOVO MUNDO DEFORMADO - parte III

 


Aquele que pensa o Burgo. Cogita todas as dinâmicas e adapta, molda, reage, interage, subtrai e acrescenta. Suplanta fronteiras, cria-as também e joga com quem entre paredes mora e quem de fora observa.

Pensa. Cogita e respira todo o modo e função da pedra, do cimento, da madeira. Matematiza a emoção da matéria face a emoção que provoca aquando montada, alterada para se formar objecto, adjunto da função ou propósito.

A cidade cumpre uma função, a parede cumpre uma função... caso cesse a sua validade, é ponderada uma janela, uma porta. Se a família aumenta, se um deformado sénior morre, se for necessário uma área de cultivo, um espaço de lazer, uma repartição administrativa, um local de nascimento ou de morte.

Num exemplo máximo, passível de acontecer, a cidade que não cumpre a função de cidade pode simplesmente deixar de existir. Para isso contribuem milhões de causas, ponderações, objectivos...

Eis que surje o Deformado Pensador do Burgo - DE.PE.BU., ser consciente da dinâmica, da necessidade. Não só cumpridor das linhas orientadoras dos Grandes Teóricos, mas acima de tudo leitor atento e decisivo das necessidades dum corpo que diz vivo, o Burgo.

Esta Entidade, tal como a cidade que regula, caso cesse a sua função ou necessidade, sabe - com tranquilidade - que pode cessar de existir.

Capacidade de sacríficio, altruísmo, visão do bem comum... é o que a sua figura ensina.

Atenção, foi nele que começou o fim do Novo Mundo Deformado. As revoluções são silenciosas, não estavam atentos os DEPEDU's. Reavivaram uma espressão nunca resolvida ou estudada. Foi "bode expiatório"!

Desarranjou os cálculos dos Grandes Teóricos.
Deu início a questionação da Função e ao revivalismo do Indivíduo.
( mas isso é uma outra história... a do princípio do Fim. ) Posted by Picasa

štvrtok, januára 19, 2006

UM NOVO MUNDO DEFORMADO - parte II

 


Houve um tempo de apreciação, de análise profunda por parte dos Mentores do Grande Projecto, para assegurar que todos os passos eram cumpridos com inequívoca certeza do que se estava a fazer. A procura técnica e científica era fulcral para cumprir os desígneos que tinham sido estabelecidos por filósofos do velho Mundo, numa corrente de Funcionalismo extremo.
Posta de parte a questão ética, teria agora de ser definida toda a estrura física bem como a emocional, afim de averiguar a possíbilidade de alterar e optimizar o Ser humano e tomar o lugar da ineficaz máquina.

Daqui resultaram os Estudos da Dinamica dos Sentimentos, estudos que contemplavam a comunicação do corpo através das expressões dos sentimentos.

Muitas experiências foram feitas, muitos sacrifícios em nome desse ideal, muitos resultados posítivos.

O primeiro estudo com sucesso prático foi o da dinamica do sentimento de " estar de pé atrás ", expressão utilizada para a desconfiança, medo, insegurança.( vide in fig. anexa )

O resultado desse estudo trouxe grandes avanços na área de segurança, ensino, copulação e muito mais.

" A fúria é o resultado da frustração, frustração pelo Medo de avançar, pela desconfiança da capacidade de acreditar num futuro. E se para isso é necessário impedir que os tornozelos funcionem como até agora funcionaram, creiam que disso o Mundo Novo depende... e será feito " - In Discursos da Transição por GE.DE.TE. Posted by Picasa

UM NOVO MUNDO DEFORMADO - parte I

 

Num mundo deformado, onde a função prima sobre o funcionário, a consequentente transformação foi óbvia, com o objectivo de optimizar a acção em prol do resultado, sem complacência para desvios ou margens de erro.

"O indivíduo não é produto da função, a função é produtora do indivíduo " disse o Grande deformado teórico (GRA.DE.TE.)

Assim, por exemplo, para a acção de regar, criou-se única e exclusivamente a função de regar. E estudado o necessário para regar, optimizou-se o funcionário para tal.
(vide in Fig. em anexo)

Um olho basta - evita-se assim a distração -, o nariz aumentado para analizar os resultados da rega, os ouvidos desnecessários, o sexo removido e as mãos e braços optimizados.

No início a máquina imperava, as funções e os funcionários automatizados produziam o efeito de massa e quantidade satisfatórios. Mas a inundação do mercado e máquinas desprovidas de emoção rápidamente caíram em excesso e desuso. A conclusão clara que a emoção e os sentidos são insubstituíveis para o cumprimento a 100% da função e o imperativo da excelência dos resultados, levaram a uma reviravolta de objectivos e a um todo novo mundo.

"A máquina não manifesta gosto nem agrado na acção de Cumprir" - GRA.DE.TE.

Apenas houve que domesticar os sentidos para o estritamente necessário. Modificar, se necessário a própria Carne caso interferisse com o sentimento ( Vide in Parte II ). E assim foi.

Um novo indivíduo nasceu com o propósito de rapidamente fazer desaparecer o indivíduo e recriar o significado da palavra "função" em todo o seu esplendor de eficácia.


A carne lutou. A deformação dos membros alienados, desabituados a não existir, cresceram de novo. Mas não como antes... nunca mais como antes. A memória clássica do corpo é estudada hoje como um passo no meio da escala da evolução. Os deformados teóricos estudaram o comportamento da sua carne mutante e concluíram que não afectava a função designada de cada entidade deste Novo Mundo, e tudo passou ao lado como uma questão secundária.

É um Mundo Novo de deformados funcionais, de exatidões, de resultados excepcionais, de compartimentação exacta de cada propósito.

" Uma linha definida do que Há para para fazer, O que se espera com o que se fará, Quem o fará e Como será este optimizado para o cumprir sem falhas."
- Grande Pensador Deformado do Burgo - (GRA.PE.DE.BU.)

" não calha perguntar se é um mundo feliz, calha sim avaliar se funciona na perfeição."
- GRA.DE.TE. Posted by Picasa

utorok, januára 17, 2006

1º apetite

Eis o meu primeiro apetite, entre todos os primeiros que já tive.

Um apetite de escrita, de divulgação umbilical de trabalhos pessoais...
contos, desenhos, músicas, pinturas, reflexões, desabafos.

Vou depositar aqui metro a metro uma produção de gavetas.

Uma repartição pública que é contudo só minha. com todos os entraves e complicações, abstratas decisões, reviravoltas, abusos e más educações peremptórias.

Deposito aqui e não contabilizo.